Sentadas em roda, misturam gestos e latinhas sobre a mesa.
Sem intenção, um grelo salta na conversa.
Risos abafam o caso.
Uma exercita o bíceps na folga de um diálogo.
Outra acende o cigarro.
A cabeça raspada faz não,
Quando a morena de regata pede perdão.
A artista ajeita o boné do brechó paulista.
A baladeira limpa o óclão.
A bêbada deixa cair o carão.
Gargalhadas se trombam, de fato.
Excomungam o falo.
Uma voz vem do além da grelha:
“Quem quer linguicinhaaaaa? Acabou de sair!”
Uma sentencia: ‘Ai cara, não dá! Já tentei, mas não rolou.’
A segunda: ‘Sei…pêlos.’
A terceira: ‘É pele, né?’
A primeira encerra: ‘Não gente. É pinto mesmo!’
“Atenção vegês: tá saindo pepino e cenoura”
‘Gata, passa o vinagrete?
‘Nossa, essa caipirinha tá muito gostosa!’
‘Quem?’
‘Sua namorada!’
Risadas mais agudas agora saltam, desmascarando vozeirões.
As pilhas de alumínio crescem e tomam volume em sacos plásticos separados.
A bola de futebol se mexe vez ou outra, dependendo do ânimo de quem ao lado dela passa.
O som aumenta na caixa preta, na medida em que a noite se aproxima e que a vodka evapora da garrafa transparente.
A mesa redonda continua num papo rodado sobre casos recentes de afeto e relações íntimas com suas iguais.
“Pessoal, a picanha acabou. Agora só tem chuleta. Alguém quer?”
O coro se pronuncia:
“Não. Dispenso. Tô satisfeira. Não, obrigada.”
“Chuleta? Quem sabe mais tarde!”